Je le vis, je rougis, je pâlis à sa vue;
Un trouble s'éleva dans mon âme éperdue;
Mes yeux ne voyaient plus, je ne pouvais parler;
Je sentis tout mon corps, et transir et brûler.
Phèdre quando encontra Hippolyte pela primeira vezRacine,
Phèdre (1677)
intensidade. dizes que me falta. quando te escrevo, não sei se quando te olho. e dissecas-me. o passado, o dia, a tarde, as noites puras e aquelas em que busco respostas. transformas camas em sofás e que me confesse, sem saberes que a psicanálise, não sendo um discurso que nos proibe de ter prazer, permite justamente que não tenhamos prazer. como se o teu desejo último fosse o meu desejo da não-satisfação, tu que me dás tanto prazer. bato-me para fechar o desejo que se abre de forma tão inoportuna. sabes, o mais delicioso, o mais forte, acontece quando menos esperamos. há todo um ritual de descobertas entre surpresas e desilusões, e a obra inesperada do que sou, és, e somos, há-de emergir. aos poucos. como um livro se revela página a página, batendo-se contra a nossa ignorância, a nossa diferença ou indiferença, o nosso sono.
pedes-me entusiasmos, superlativos, numa vida que está em fim de ciclo e que me pesa por todas as impressões contraditórias, distorsões naturais do verbo, ou desuso familiar da razão. a intensidade é a maior de todas as subversões. um mergulho na bizarria da quimera. e contudo...
e contudo eu sei que existem palavras mágicas, palavras que elevam o canto do mundo, nos batem no peito com força, tanta força que a maior arte é saber retê-las e domá-las, para que nos deixem mas regressem sempre. se numa qualquer Babilónia me oferecessem esse dom usá-lo-ia para te agradar, acasalando-o com todo o saber que derivasse do que está dentro e acima da consciência. uma espécie de perfeição.
de que não padeço. e que ninguém, nenhum amante, nem mesmo um deus, merece. ou não fosse o amor a aprendizagem do sofrimento e a adoração incondicional do limite que é o outro.
intensidade. lê os meus olhos.