4.13.2009

torre sineira #2


Subitamente levantou o pulso, procurou a hora que o seu relógio marcava e deu-se conta de que o tempo parara. O ponteiro dos segundos estava enredado no dos minutos, presumiu que a hora seguinte nunca chegaria.

Em baixo, na praça, um homem parou quando a avistou. Olhou para o relógio da torre e não convencido da inevitabilidade da paragem do tempo, sobressaltou-se. Durante um minuto, o movimento dos seus olhos quase enjoou do balanço. Os sinos, ela, o relógio, os sinos, ela, o relógio. Anteviu o movimento súbito, lento, vigoroso, do bronze pesado, afinado, mortal. Os braços abertos sobre a saia que esvoaçava. Não via o rosto. Quis gritar: - Afaste-se!

Sentindo-se abençoada, ela permanecia imóvel, obedecendo à ordem do tempo. Estranhou sentir o rosto formar um sorriso, um pequeno sorriso que deveria ter permanecido interior. O olhar pousou então um pouco, o suficiente para avistar um homem que, tal como ela tantos dias, estancara face à visão da torre cantante.

Quando estalou um ruído seco de alavanca...




[Imagem: José Rodrigues - Sem título - Técnica mista sobre cartão - 24,5cm x 31,5cm]

2 Comments:

Blogger Claudia Sousa Dias said...

e depois?

e depois?


csd

1:58 da tarde  
Blogger Até que nem tanto esotérica assim! said...

Seu blog é impecável!Amei!
=**

8:20 da manhã  

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